Vivemos hoje um grande momento na história da humanidade, em que a informação e o conhecimento são possíveis a todos. Nesse instante, temos a capacidade de aprender e desenvolver várias habilidades, descobrir novas formas de autoconhecimento e autodesenvolvimento. Podemos aprender a aprender pelo prazer, mudando uma configuração ultrapassada de que o autoconhecimento e a evolução só se fazem na dor e de que o outro é responsável pelo que sentimos e pensamos.
Todos nós falamos, em algumas ocasiões, sobre sexualidade. E, na maioria das vezes, o senso comum confunde sexo com sexualidade. Sexo é uma prática eminentemente genital, enquanto sexualidade é uma postura de vida. Sexo está ligado à reprodução, aos órgãos genitais, enquanto sexualidade está ligada ao prazer, à excitação. E é nesse conjunto de sensações e de vivências, que vamos experimentando, criando e produzindo o objeto do nosso interesse.
Sexualidade é entender o prazer como direito e necessidade, como exercício ao merecimento e à abundância de tudo o que projetamos e desejamos com presença. Ela é a energia que extrapola a experiência do prazer físico e atua de forma direta na qualidade da saúde e longevidade e, com isso, permite melhor funcionalidade corporal, vitalidade, alegria, vida.
Corpo, saúde e sexualidade trazem uma proposta mais ampla no contexto da consciência corporal. Vemos o ser humano num contexto universal, como parte de um holograma, de uma grande teia de vida, onde ele se interage e representa o macrocosmo no microcosmo. Somos um microcosmo que contém o macrocosmo. O corpo, expressão palpável e máxima do indivíduo, torna-se, assim, canal de materialização de processos evolutivos.
A consciência corporal usa as manifestações do corpo — os sintomas — como expressão daquilo que é predominante no indivíduo naquele momento, enquanto busca de resolução. Nesse sentido, podemos olhar, escutar, tocar as doenças, gerando a possibilidade de aprender, de relembrar o caminho da saúde, aqui vista como incorporação do direito ao merecimento e à abundância.
Não sabemos ainda viver sem adoecer, porque até agora não entendemos nosso direito ao prazer, à abundância, mas temos a possibilidade, a habilidade e o potencial de usar conhecimentos internos até então esquecidos do nosso “ser”, para gerar saúde, consciência. Podemos reorganizar, reavaliar, descobrir novos valores, sentidos e significados do que significa prazer. Evoluir pelo prazer, pela saúde física e emocional é uma possibilidade verdadeira.
Conversar sobre sexualidade, sobre prazer, sobre práticas e posturas que nos auxiliem e promovam uma nova visão sobre o corpo e sobre o prazer permite-nos reorganizar conceitos, dogmas e crenças a respeito do que traduzimos como prazer. Podemos conversar, aprender, experimentar, dentro de nossa capacidade e respeito, para evoluir nossa consciência global e específica sobre nosso corpo, sobre como conhecer e reorganizar, se for o caso, os fluxos de prazer.
Quando entendemos que a energia, o fluxo do prazer, vibra dentro de cada um de nós 365 dias por ano, 24 horas por dia, podemos acreditar que a evolução, o aprendizado e a vida podem ser vividos com prazer.
Conversar, aprender e ampliar nossas qualidades individuais, coletivas e universais, recuperando linguagens e informações, conhecendo mais sobre nós mesmos, para que se abram todas as janelas para a percepção é a meta, é a necessidade de todos nós.
Para fazer isso, precisamos conhecer nosso corpo, tomar posse do nosso corpo. Cada parte dele tem funções mecânicas, fisiológicas e emocionais, permeáveis à função de criação de movimentos, consciência ampliada e propriocepção.
Usamos o tempo todo o referencial anatômico e fisiológico para sustentar o pensamento dentro das funções emocionais e sensoriais. Entretanto, o que na verdade experimentamos já responde a movimentos mais sutis.
O corpo vai escrevendo, de forma detalhada, cada uma das nossas experiências e descreve como lidamos e reagimos a cada uma dessas experiências. A nossa história é contada por ele em todos seus sintomas. Lidar com o corpo nessa tradução gera informações sobre nosso psiquismo, porque todo nosso psiquismo está materializado em nosso corpo. Quando entendemos, não se faz necessário aquele sintoma, ele se desinstala, pois cada sintoma tem uma proposta.
A sexualidade tem, assim, o propósito de extrapolar o conceito de genitalidade a partir do desenvolvimento de um estudo e de posturas, exercícios, estímulos aos corpos erótico e físico, entendendo que a proposta é fazer mais vivos e mais presentes os níveis de consciência que atuam de forma direta na qualidade de saúde do nosso corpo, na quantidade e qualidade de vida saudável que nosso corpo vive.
Cada uma das posturas que envolvem nosso processo de sexualidade abrange diretamente as funções sensoriais e psíquicas daquelas partes do corpo físico. Para que possamos viver nossa sexualidade de uma maneira inteira, saudável e presente, é importante, primeiramente, nos darmos o direito ao nosso prazer. Que conheçamos o prazer em si, para que possamos promover o prazer para si. E à medida que vamos conquistando isso, à medida que vamos resgatando, fortalecendo e potencializando esse direito e essa liberdade, vamos desenvolvendo uma maior acuidade com a nossa habilidade de gerar prazer na troca sexual, na troca genital, no convívio, na troca com o ambiente, com os seres, na troca consigo mesmo.