O homem é uma unidade biopsíquica, formada por uma psique (alma) e um soma (corpo), constituído na relação desse homem com seu mundo e com outros homens. Filósofos como Platão “viam” e “pensavam” o homem como um ser portador de uma alma, para eles, “princípio da vida” ou princípio de todo movimento. Considerava Platão que o movimento se originava da alma. Na mitologia o corpo e a alma sempre foram cultuados (Mito e corpo — uma conversa com Josefh Campbell. Summus, 2001), valorizados e relacionados.
Os primeiros fisiologistas e médicos, na tentativa de estudar a origem das doenças, relevavam essa alma que se move e desconsideravam a relação entre o corpo emocional e o corpo físico, fixando-se nas considerações e estruturação do corpo humano.
Na visão cartesiana de mundo é o corpo que passa por uma transformação, sendo relegado a um segundo plano (“Penso, logo existo”). Freud, pai da Psicologia Moderna e médico por formação, ao estudar a histeria, vai fazer uma analogia entre corpo doente e a mente (psique). Mas quem, primeiramente, faz um estudo detalhado sobre as neuroses e o corpo é um admirador de Freud, chamado Wilhem Reich. Ele vai relacionar a psique (mente) e o corpo e vai estruturar uma visão de anéis de retenção do fluxo de energia no corpo, dizendo que, se a palavra (Freud) tinha poder, o corpo também explicitaria toda doença emocional, já que, muitas vezes, o homem não teria condições de perceber, de conscientizar-se de como seu corpo é e está. Vários psicólogos pós-Reich estudam o corpo humano, de várias formas e sob vários ângulos. Não podemos deixar de citar também que, desde séculos, os orientais estudam e trabalham com o corpo numa outra dimensão (acupuntura, shiatsu, chakras etc). Atualmente, Lowen e Groof, nos Estados Unidos, são quem mais têm atuado, buscando uma proximidade de visão entre Ocidente e Oriente, anexando esses movimentos.
Leitura corporal
A leitura corporal sintetiza, de forma nova, suave e diferente a relação entre o corpo físico e o corpo emocional. Ela mostra que o corpo e sua funcionalidade refletem todas as informações que introjetamos antes, durante e depois do nascimento. Essas relações são harmoniosas e saudáveis quando crescemos em nível de consciência, liberdade individual e se enfraquecem e deterioram quando mantemos uma ligação limitada em relação à própria existência.
Na leitura corporal, temos uma visão mais abrangente, vendo o homem como sendo o microcosmo que reflete o macrocosmo, uma unidade complexa, construída por vários campos de energia que interagem, segundo a coordenação de um EU SUPERIOR. Visto assim, o corpo humano reflete, no mundo material, a consciência mais sutilizada.
A relação e o estudo do corpo humano dão-se na percepção da fluência ou não desses impulsos e, dessa forma, podemos reaprender a linguagem corporal e aprender como mobilizar impulsos emanados e paralisados.
A capacidade de identificação e utilização dos impulsos depende de estágios de centramento, percepção, interpretação e liberdade expressiva alcançados pelo indivíduo, que já consegue identificar, conscientizar e expressar.
Saúde e doença na leitura corporal
Saúde é o estado que se conquista através da expressão original, livre e espontânea dos impulsos emanados pela consciência. A saúde decorre da expressão livre do interno, do uso dos dons e talentos peculiares, da criação e recriação contínuas de novas possibilidades de crescimento e evolução.
A aceitação dos limites impostos à expressão espontânea, seja por influências históricas, hereditárias, ambientais ou da educação, que, desde a concepção do indivíduo, cria obstáculos, é que reprime e desestimula a expressão autêntica, gerando perda de sensibilidade emocional e física. No esforço de saúde, a maioria acaba buscando no externo o seu “equilíbrio”. O empenho em adotar regras externas, o cultivo de comportamentos que agradam mais aos outros do que a si mesmo exige a inibição de vontades e necessidades próprias e acaba levando à doença.
Em função disso, o corpo físico e o corpo emocional vivem em constante conflito. Inicialmente, os conflitos aparecem de forma mais sutil. Essas desordens se instalam quando as tentativas de expressão do autêntico e genuíno não são autorizadas. O adoecimento se fará superficial ou profundo, agudo ou crônico, incapacitante ou não, leve ou grave, neste ou naquele órgão ou estrutura, de acordo com o tipo ou grau de desequilíbrio vivido pelo indivíduo.
Sentir e compreender é o caminho da cura. Sem consciência, sem compreensão e conhecimento do momento presente, não existe cura. As patologias se fazem no cotidiano e expressam o nível de consciência já alcançado pelos indivíduos.
O retorno à saúde, a essência da cura, do crescimento e da evolução, é a redescoberta do interno, a expressão plena dos conteúdos interiores e a capacidade de interação entre as necessidades internas e a expressão autêntica desse interno no social.
A saúde, mais que tudo, é a experimentação e vivência das necessidades internas, evolutivas e nutritivas. O prazer nutre, a saúde nutre, o experimentar nutre. E nutrir gera consciência evoluída, que contribui para evolução coletiva.
O corpo e suas subdivisões
O corpo, dentro da leitura corporal, é o último estágio do adoecimento, ou seja, muito antes do corpo sinalizar a doença, independentemente do seu grau — dentro da leitura corporal, “doença” é tudo o que impede o fluxo, seja uma cãibra ou cisco no olho até uma metástase — ela já aconteceu em níveis superiores e mais sutis.
Podemos, então, subdividir o corpo em partes, estruturas e órgãos, estudá-los e entender, no momento presente, como eles interagem e como deveria estar acontecendo seu movimento.
É do estudo, leitura e entendimento do funcionamento desse corpo e suas estruturas que podemos traçar um painel dos condicionamentos, comportamentos e busca de consciência do próprio indivíduo, gerando, assim, cura. Na leitura corporal, não existe doença, e, sim, doente. O sintoma reflete o homem, unidade biopsíquica, processo contínuo de evolução e desenvolvimento. E é partindo do homem, dessa unidade, que a evolução se faz.
Reconstruir essa integração é a única possibilidade de salvação do homem, seja no plano individual, seja no coletivo. Essa é a tarefa individual eu-comigo, essa é a tarefa social eu-outro, e é também a tarefa evolutiva global.